
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
-Quais são os desafios do PT no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva?
Um partido político não deve ser só para disputar eleições. A geração que lutou contra a ditadura encerra um ciclo na história do Brasil, que foi fazer o país retomar o crescimento, distribuindo renda, sem falar no controle rigoroso do processo inflacionário. O que fazer depois do mandato do presidente Lula? Essa é a tarefa da nossa geração, que é intermediária e foi seduzida pelas bandeiras do PT. O PT renovou a política brasileira, porque construiu a maior liderança popular deste país, que é o presidente Lula.
-Em 2010, o PT vai ter um novo Lula ou não é bem isso que o partido precisa ter?
O PT precisa disputar o capital político do governo Lula. Há quatro critérios para definir o sucessor do presidente. Ele precisa ter a capacidade de se identificar mais com o governo Lula, ter maior aceitação popular em intenção de votos, unificar o PT e ser o que dialoga melhor com a base aliada.
-Há nomes para suceder Lula em outros partidos da base aliada, como o deputado federal Ciro Gomes (PSB). Há problemas se o nome não sair do PT?
O maior compromisso talvez não seja ser do PT, mas dar continuidade ao projeto implementado pelo PT por meio do presidente Lula. Eu defendo um candidato do PT porque é o maior partido de esquerda da América Latina. Será muito difícil ter outro nome da base aliada que tenha capacidade de liderar esse processos em ser do PT.
-O senhor vê a possibilidade de PT e PSDB se unirem num futuro próximo ou já em 2010?
Pela demonstração que o PSDB deu na votação da prorrogação da CPMF, é muito difícil. Foi uma decisão irresponsável, infelizmente liderada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Uma liderança sem popularidade derrotou duas lideranças grandes do PSDB, como os governadores José Serra e Aécio Neves.Nesta conjuntura,é muito difícil uma aliança do PT com o PSDB em 2010.
-A relação entre o PSDB e o governo Lula será outra, depois desse episódio?
Como a votação se deu no Senado, é mais grave ainda. Na Câmara, o debate de idéias faz parte da representação popular,mas lá foi aprovado em dois turnos.No Senado deveria haver o equilíbrio da nação, com a representação dos entes federados, mas o posicionamento do PSDB não abrigou o dos governadores. A falta da CPMF prejudica os estados.
-Em Minas, temos um governador que é também presidenciável. Depois da segunda derrota do PT em 2006 para Aécio Neves, para reconstruir o partido será necessário explicitar a oposição ao governo do PSDB?
A nossa relação com o PSDB de Minas é bem diferente da relação do PT com o PSDB de São Paulo, até no jeito mineiro de fazer política. Mas é verdade que aprovamosno terceiro congresso estadual do PT que somos oposição ao atual governo do PSDB, por unanimidade. Não há uma guerra regionalista. É muito pequeno pensar assim. São Paulo tem um papel importantíssimo para o Brasil. Para dar continuidade ao projeto que o presidente Lula está fazendo, queremos conhecer as diferenças entre Serra e Aécio.
-Nos cinco anos de governo Aécio, o PT sofreu vários revezes. Quais foramos principais equívocos que colocaram o partido numa posição de isolamento eleitoral, não permitindo sequer que fosse eleito um senador pela legenda?
Cometemos erros na campanha de 2002, principalmente na questão da aliança, quando poderíamos ter eleito um senador. Era impossível vencer o Aécio em 2006, mas poderíamos ter feito uma opção mais à esquerda, com bandeiras e aliados que pudessem fazer um contraponto à visão de Estado do PSDB. Era melhor termos nos concentrado na eleição para o Senado e, ao mesmo tempo, termos pautado um discurso mais radicalizado em relação ao PSDB. Como isso não foi feito, ficou ainda mais fácil a vitória do governador. Não concordo que o PT tenha sido derrotado durante os cinco anos. Em 2004, elegemos o maior número de prefeituras da nossa história, passamos de 30 para 84 prefeitos. Estamos acumulando forças. Reelegemos o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, em primeiro turno.
-Apesar de ter crescido em 2004, em 2006 vários prefeitos do PT apoiaram o governador Aécio Neves. Onde foi parar a disciplina partidária?
Houve um erro da antiga gestão estadual do PT. Ao ser oposição em Minas, esqueceu que era situação no governo federal. A nossa direção não conseguiu dar nossas prefeituras. Teremos que fazer agora uma correção de rumos. O PT governa o país, temos que melhorar a nossa relação institucional entre governo e os prefeitos.
-Essa é a razão para muitos prefeitos do PT dizerem que são mais bem tratados pelo governador Aécio do que pelo governo federal, incluindo os ministros?
Nossa direção estadual não teve a compreensão de informar e preparar as nossas prefeituras a elaborar projetos e angariar recursos. Quando se é oposição, a cobrança é pelo debate idéias, mas, quando se é governo, a cobrança é pela ação concreta nos municípios.
-Há meta para eleição de prefeitos em 2008?
Não há cidade prioritária, não quero fixar metas, para não ficar refém delas. Porém, se não fizermos um sucessor do PT na Prefeitura de Belo Horizonte, será uma derrota. Se isso acontecer, compromete 2010.
-Se não há sucessor natural do presidente Lula, também não há sucessor natural do prefeito Fernando Pimentel, em Belo Horizonte. Como será conduzida esta eleição?
O nome não deve ser tão conhecido, mas precisa se identificar com Pimentel, precisater apoio do ministro Patrus Ananias. Temos os deputados estaduais Roberto Carvalho, André Quintão e o deputado federal Miguel Corrêa Júnior.
-Há uma disputa interna entre Pimentel e Patrus, com pensamentos e relações diferentes em relação ao governo Aécio Neves e à sucessão presidencial. Como evitar que essa fissura prejudique o partido na disputa pelo governo do estado?
Aécio não vai sair do PSDB porque transformaria José Serra em candidato natural. Ele vai enfrentar primeiro uma disputa dentro do PSDB. Os dois partidos padecem do mesmo mal: são muito paulistas. Presidir o PT no segundo colégio eleitoral é ter responsabilidade com a sucessão do presidente Lula. O nosso partido tem também condições de apresentar um nome para a sucessão do presidente Lula. Em Minas são os que temos ao governo do estado: Pimentel e Patrus. A composição seria o melhor dos mundos. Não acredito em prévias nem em disputa entre Patrus e Pimentel. Eles não têm perfil para isso. É preciso ir devagar. Como a região metropolitana não tem tanto peso na eleição do estado como um todo, se a gente não organizar o PT no interior, não adianta nomes. Não temos o direito de arrumar uma disputa entre nós, sendo que em2010 há vários cargos: presidente da República, senador, vice-presidente e governador. Temos que trazer o PMDB e a liderança do ministro Hélio Costa, para repetir em Minas a aliança nacional. Precisamos primeiro arrumar o nosso time, para depois enfrentar o adversário.
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